POR Abilio Diniz

Pedi para fazerem uma pesquisa nas redes sociais sobre o negócio de fusão entre Grupo Pão de Açúcar e Carrefour. A repercussão na rede foi negativa para a operação, mas gostaria de agradecer a todos que postaram comentários, críticas e também elogios e palavras de estímulo. Neste momento estou fazendo uma avaliação de tudo, inclusive dos meus erros. Costumo ensinar para meus alunos do Curso de Liderança na FGV, que se tiverem que cometer erros, que sejam só erros novos.

REFLEXÃO Os erros cometidos por outras pessoas não me dão o direito de cometer os meus.

BNDES / BNDESPAR Esta foi a parte mais criticada da operação. Na crítica, fui colocado como alguém buscando favorecimento governamental a custo do povo. Apesar da aparência, a realidade foi bem outra. Sempre estive muito tranqüilo em relação à operação com o BNDESPAR. Não havia qualquer subsídio, não era empréstimo e sim compra de ações rigorosamente a preço de mercado, com perspectiva de ganhos altíssimos para o Banco. Mesmo antes da saída do BNDES, o dinheiro necessário para uma substituição já estava sendo recomposto por fundos privados; mas nunca conseguimos comunicar isso de forma clara e correta.

CONCENTRAÇÃO De acordo com estudos realizados, a soma das lojas do Grupo Pão de Açúcar com as do Carrefour representa menos de 18% da venda total de alimentos no Brasil. É evidente que em locais onde houvesse superposição, além do CADE nos recomendar a venda para a concorrência de uma das lojas, nós mesmos iríamos considerar não econômica a operação das duas.

O Pão de Açúcar já fez muitas aquisições e estamos acostumados a este processo. Além disso, com a fusão conseguiríamos uma economia enorme nas operações. As sinergias foram avaliadas por consultorias e os números são muito grandes. Como sempre fizemos, estes ganhos seriam repassados aos nossos consumidores. Um exame de nossos balanços e de nossa margem mostra isto com clareza. O perfil das lojas do Grupo Pão de Açúcar e do Carrefour é bem diferente, assim como as linhas de mercadoria. Dessa forma as marcas seriam mantidas e preservadas as identidades das lojas.

DESEMPREGO Praticamente nenhum. Com o ganho de eficiência das duas companhias juntas, teríamos mais capacidade de investimento e crescimento, criando, assim, mais oportunidades e postos de trabalho.

CASINO / JEAN CHARLES NAOURI Nunca rasguei contrato ou descumpri acordos. Aprendi com meu pai que a palavra era tão importante quanto a assinatura e que tinha de ser honrada. Como fiz em outras ocasiões, busquei oportunidades de crescimento para a Companhia e com uma proposta concreta em mãos queria discutir com Jean-Charles. Continuo com o mesmo objetivo: fazer a Companhia crescer e, com isso, contribuir para o crescimento do país.

Em 2005 vendi ao Casino o controle do GPA por meio de uma opção de compra de uma ação a ser exercida em junho de 2012 Não obstante a transferência do controle acionário, tenho o direito vitalício de permanecer como Presidente do Conselho de Administração, liderando o management na busca do crescimento da Companhia e trabalhando para garantir que os interesses do Grupo Pão de Açúcar e de seus acionistas sempre prevaleçam.

A FUSÃO GPA/CARREFOUR Iniciei minha vida no setor de distribuição em abril de 1959, quando com meu pai abri a Loja 1 aqui na Av. Brigadeiro Luiz Antonio. Não tenho dúvida em afirmar que é um dos negócios mais complexos e mais fascinantes do mundo. Eu o estudei e continuo estudando. Fui discípulo de Marcel Fournier e Jacques Defforey, fundadores do Carrefour. Aprendi muito com eles. Seguidamente promovo na Companhia, com o auxílio de consultorias, workshops, em diversas partes do mundo, para nos mantermos sempre atualizados. É munido desta experiência, destes conhecimentos técnicos que afirmo com convicção que a fusão do GPA com o Carrefour seria um negócio formidável para todos os envolvidos. Para o GPA, para o Carrefour e para todos os acionistas, inclusive o Casino. Não tenho dúvidas de que seria também muito bom para todos os funcionários e para o consumidor brasileiro.

Historicamente, grandes corporações varejistas ajudam muito os governos de seus países no combate à inflação e na melhoria de todo o sistema de distribuição. O ano passado, por exemplo, enquanto a inflação foi de 5,5%, o crescimento de preços dentro dos nossos hipermercados foi de apenas 3,5%. Hoje os grandes competidores do Grupo Pão de Açúcar não são o Carrefour e o Walmart, são os pequenos e tradicionais que representam cerca de 50% da distribuição de alimentos no país. Pelo que se conhece da história, apesar da concentração, a distribuição tradicional continuará a existir e crescer, mantendo sua participação no mercado.

GPA – INTERNACIONALIZAÇÃO O GPA é, hoje, referência mundial em distribuição. Seu maior ativo são as pessoas, sua cultura e seus valores, que são: humildade, determinação e garra, disciplina e equilíbrio emocional. O DNA da família Diniz está difundido pela Companhia. Seu slogan define bem: “Lugar de Gente Feliz”. O impulso à atividade física, alimentação saudável e espiritualidade são muito conhecidos. O Grupo Pão de Açúcar sempre trabalhou muito com as pessoas, team building e a frase escrita nos crachás exemplifica isto: “Nossa gente faz a diferença”. O que o Grupo Pão de Açúcar faz para seus 160 mil colaboradores diretos é considerado um exemplo, dado o tamanho da empresa e a sua base muito larga da pirâmide. Além disso, os conhecimentos técnicos acumulados pelos executivos da companhia são o que há de mais atual no mundo. É por tudo isso que queremos levar nossa técnica, nossos valores, nossa cultura e nosso DNA para outros países. Internacionalizar a gestão brasileira de qualidade, colaborando com outras pessoas, difundir os conhecimentos e a capacidade dos brasileiros de administrar varejo com excelência.